domingo, 26 de outubro de 2008

[Artigo] Crendo, vivendo e vendendo


Pais do futebol, das praias, do samba, e mais uma penca de estereótipos, o Brasil também é marcado pela religiosidade, seja na forma do catolicismo, seja nos movimentos esotéricos, herança da nossa formação étnica e cultural. Signos, bolas de cristal, cartas, gatos pretos e coisas do gênero são comuns no cotidiano ou referencial de cada pessoa.

E como tudo que faz parte do povo faz parte da comunicação, A publicidade não deixa de explorar todo esse campo místico, onde se encontram jovens, velhos, ricos e pobres. Não é só Brasil. O mundo inteiro, pelo menos ocidentalmente falando, tem suas lendas, suas crenças, suas vertentes religiosas. Faz parte da natureza humana crer.

A cultura espiritualista cheia de crenças e ritmos que mexem com o lado superticioso do povo. O emprego correto na propaganda inclui o que se quer vender na vida ou nas referencias que o consumidor já possui, e o torna vulnerável à ações propagandistas.

Quanto aos hábitos religiosos da população brasileira, a grande maioria aderiu ao esoterismo até mesmo como complemento de religiões tradicionais, sempre buscando o contato e a fusão de si mesmo com o Ser absoluto. Ao perceberem isso os profissionais da comunicação passaram então a investir e apelar a esse lado “sobrenatural”, uma área de extrema aceitação no mercado.

Cases
São incontáveis os números de anúncios aliados ao misticismo que já foram veiculados a fim de associar determinado produto a tendência popular. Entre estes, alguns se destacaram pelo impacto causado pela campanha e pela repercussão entre os consumidores.

O edital de revista do banco Itaú, por exemplo, usou e abusou de “espiritualidade” com um plano de fundo azul celeste, mostrando tranqüilidade e paz de espírito. A foto central mostrava uma mulher iluminada por um contorno brilhante, remetendo a aura e a força interior; segurando uma bola de cristal que prevê um bom futuro. Garantido, é claro, pelo banco. Anúncios como este mostram a relação da empresa com o cliente aliado às “forças superiores” com capacidade de influenciar a pessoa na decisão de que serviço bancário aderir.

Outra propaganda que usou do mesmo artifício foi toda a veiculação das “Tintas Renner”. Para esta, foi criada uma comunicação baseada no misticismo das cores e no efeito que elas causam nas pessoas. Fundamentada nessa crença, a criação da campanha foi feita em cima de simular momentos felizes associados ao tom do ambiente, como, por exemplo, um casal recém-casado em um quarto todo vermelho.

Em outros países, o uso do artifício é bastante explorado pelas agências publicitárias e empresas. De forma semelhante e talvez mais apelativa, vemos o caso da marca Levis Strauss que utilizou em um de seus vídeos magia negra e vudu. Tudo para ressaltar o botão da calça jeans que contêm trinta gramas de aço “no lugar onde o homem mais precisa”.

Aqui pode-se ressaltar a questão da contextualização da peça no referencial já existente na mente do consumidor. O vudu é uma prática conhecida. Já é naturalmente alvo de brincadeiras e tratado com leveza pela população. A marca se aproveita da realidade para criar identificação e anunciar. Essas e outras formas da propagação do esotérico através da publicidade, são métodos válidos para a maioria dos profissionais da área que buscam sempre atingir em cheio o consumidor final e obter lucratividade para seu cliente.

O misticismo é um gancho que dá resultado na publicidade. Assim como tudo que se refere à cultura popular, costumes, crenças e tendências. Isso é fruto de uma cultura de massa, feito para pessoas de várias regiões, estados, países, classes e cores. O esoterismo, ou misticismo, oferece às pessoas a opção para escapar e fantasiar acerca do que elas possam ser. E a moda que levantou o misticismo é a mesma que a mantém. Faz parte da sociedade relativista e pós-moderna não ter uma religião específica, misturá-las buscando o melhor para si dentro de verdades ou visões de mundo próprias.
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Eriany Uchôa e Allan Gentil

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