domingo, 16 de novembro de 2008

[Artigo] Educação, anunciantes e oportunidades(nistas)


Qual é a chave para a melhoria da educação no Brasil? Essa é a pergunta que está tomando conta dos congressos, das palestras e dos debates das grandes personalidades nacionais. Todos estão finalmente percebendo o atraso do Brasil.

Parece um assunto meio chato, não é? Talvez pra você, que está na universidade ou que já tem sua pós-graduação, mas pra mais de 15 milhões de brasileiros que mal sabem escrever o nome, é apenas uma triste realidade aparentemente irreversível. E então, qual a chave? Informação, persuasão e conscientização. Ou seja, publicidade.

Segundo um estudo feito pela professora da Unicamp Maria Helena Castro, o grande problema (o maior deles) que leva o Brasil a estar em um índice tão alto de analfabetismo é a velha geração. Essas pessoas sem escolaridade não vêem como prioridade conduzir seus filhos à escola. Então, a mais eficaz maneira de convencer essa gente de que, hoje em dia, a educação é a essência de uma família estruturada e feliz, é através da mídia.

O Brasil está ciente dessa solução. Por isso, nos últimos dois anos, as propagandas relacionadas à educação triplicaram. Mas isso não significa nada perto do que seria necessário para revolucionar o país. E, sem contar que a maioria dessas propagandas veiculadas recentemente, são apenas com fins direta ou indiretamente políticos. Não que estas sejam inúteis, mas somente elas, nunca serão suficientes.

Relevância e redundância

O elo que aparentemente une educação e propaganda é a política. Esse é o motivo pelo qual raramente se vê na televisão propagandas com esse tema direcionadas ao público alvo que deveria ser prioridade: os pais carentes e sem escolaridade que não vêem necessidade de colocar os filhos na escola.

Um dos evidentes exemplos disso foi um comercial veiculado em horário nobre na TV aberta este ano, em comemoração ao Dia da Educação. Eles precisavam fazer algo que lembrasse o baixo nível de instrução do povo brasileiro. Apenas isso. Então, o Mackenzie e a agência Publicis produziram um filme que mostra que raramente os entrevistados conseguem responder corretamente a questões consideradas simples para quem teve a chance de estudar, como "Quem assinou a Lei Áurea?" ou "Quem proclamou a independência do Brasil?". A comunicação leva a assinatura "Só a educação pode mudar essa realidade".

Mas, no quê, afinal, isso influenciou na vida dos analfabetos? Ou na decisão dos pais conservadores? Qual foi o real objetivo dessa propaganda “em prol da educação”? Por mais óbvio que pareça, a palavra que mais precisamente pode descrever esse investimento publicitário é “redundância”.

Atos concretos

Apesar desse estereótipo político que paira sobre a educação, o Brasil está atento ao fato de que a publicidade é o meio mais eficaz para alcançar todas as melhoras necessárias, previstas pra 2022. Como os governantes não são tão tapados assim, já estão, aos poucos, concretizando essa idéia. Muitas propagandas foram e estão sendo veiculadas com esse tema que é a única esperança para um Brasil desenvolvido: Educação.

O “Todos pela educação” é um movimento que têm impressionantemente feito o que verba de governo nenhum conseguiu fazer. Em agosto deste ano, ganhou da agência do grupo ABC, a DM9DDB, uma campanha que merecia um prêmio. O título da Campanha “No ar: Todos pela educação – Eleições 2008” pode facilmente ser decifrado. O movimento reuniu entidades de mídia, veículos de comunicação e comunicadores para, juntos, levantarem a bandeira da qualidade na Educação e mostrar para a população o papel do município nesse desafio (aproveitando que as eleições municipais estão aí). Essa união resultou num sucesso total.

Oportunidades e oportunistas

Há também aquele tipo de comunicação que é feito por uma determinada empresa ou produto com segundas intenções em cima da mensagem “Educação é a solução”, ou em outras palavras “Nossa empresa está a favor da educação”, e traduzido ainda mais uma vez, “Estamos preocupados com o Brasil, logo, somos bonzinhos. Compre nosso produto”.

É claro que toda empresa ou entidade têm seu interesse primário, e não vai ficar gastando milhões em publicidade para conscientizar o Brasil de que a educação deve melhorar ou que ela é essencial. Mas, se ela quiser passar uma imagem boa aos consumidores, é sem dúvida uma boa tática apelar ao emocional com assuntos polêmicos, no caso, a educação. Várias empresas têm feito isso. E é claro, a educação agradece, afinal, ambos estão sendo mutuamente beneficiados.

Um exemplo disso é o banco Itaú, que já há algum tempo, tem a “Fundação Itaú Social”. Em abril deste ano, foi lançada a premiada campanha descrita a seguir: O filme inaugural, "Cadeiras",  tem criação assinada pela agência Africa. A campanha sugere que a sala de aula não é o único cenário para a aprendizagem. As imagens mostram crianças interagindo e aprendendo em diversos locais, sempre acompanhadas de cadeiras escolares, numa referência aos projetos desenvolvidos em parceria com a escola.

Pense

A maioria das propagandas em prol da educação, são do tipo: “A educação do Brasil é ruim”, “Vote em mim e construirei mais escolas”, “O Brasil está atrasado com relação aos outros” ou ainda “Você, professor, diversifique suas aulas”. São sem dúvida, propagandas úteis e indispensáveis, mas, se o que, na maioria de vezes, impede os alunos a irem para a escola é a falta de prioridade dos pais (em sua maioria, sem terem concluído o ensino fundamental ou sequer ido à escola), porque se vêem tão poucas propagandas direcionadas a convencê-los dessa importância e do bem que isso fará aos seus próprios filhos? Afinal, qual é seu poder de influência? Fica aí uma questão a se pensar e em 2022, veremos os resultados.

Eriany Uchôa

Um comentário:

  1. Ery, gostei do foco que você deu.
    Realmente, apenas propagandas ligadas à política não são suficientes.

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