domingo, 8 de fevereiro de 2009

[Artigo] Preceitos Parciais


"Nessa operação os profissionais não são simples reprodutores do real e senhores soberanos dos discursos, como reza toda uma tradição do fazer jornalístico". Alfredo Vizeu

O jornalismo nunca é constituído apenas por informação descritiva. O texto que o leitor recebe está carregado da opinião do autor e da linha editorial do veículo que ele representa. Baseado nisso, a informação será manipulada para atender os interesses ideológicos - ou financeiros - do jornal ou revista.

No decorrer da história do país, importantes acontecimentos, dos quais cada brasileiro deveria estar interado para exercer sua cidadania de forma democrática (que utopia!), foram "sutilmente" maquiados por grandes empresas de comunicação. Uma das maiores e mais influentes no Brasil e América Latina é o grupo Abril, que atua de forma integrada em várias mídias e atinge todos os segmentos de público.

A revista Veja é o principal produto jornalístico do grupo, retendo, hoje, o maior número de leitores de periódicos do país (10 milhões) e o quarto do mundo. No começo de sua trajetória, a revista se colocava contra o sistema de governo vigente na época: o regime militar. Muitos problemas foram enfrentados pelo periódico, entre eles, a repressão exercida pelos órgãos de censura. Veja, entretanto, foi implacável, não se eximindo de publicar a realidade do país. Teve muitas de suas edições retiradas das bancas, contudo, conquistou seu espaço na imprensa e o interesse dos leitores.

Com o passar dos anos e a substituição de profissionais como Mino Carta, a redação da Veja foi mudando sua linha editorial e se colocou em uma posição intermediária entre direita e esquerda. Adotou o neoliberalismo como ideologia ao estimular a privatização dos bens do governo, a globalização, a competitividade e a modernização das empresas. Também estimula o consumo para movimentar a economia e, por causa disso, acaba abrindo mão da imparcialidade. Entra em contradição e compromete a credibilidade do seu conteúdo jornalístico.

Interesses questionáveis

Antes mesmo das eleições presidenciais de 2002, os elogios da revista a Lula eram muitos, o que ficou explícito na matéria de capa "O PT está preparado para a Presidência?" (25/9/02). Na reportagem, o periódico destacava a trajetória ideológica do partido e apoiava as promessas do, então, candidato. Depois de eleito, quando o presidente mostrava compartilhar da mesma ideologia da revista (neoliberalismo), era aplaudido veementemente, caso contrário, as críticas apareciam. Por isso a contradição. A revista não pertence a um "lado", defende quem concorda com ela. Repreende os discursos de Lula, quando ele fala em mudar o país. Denuncia-se aí o temor por mudanças drásticas na política macroeconômica e na austeridade fiscal. Convém lembrar que, FHC era muito elogiado pela revista por não adotar grandes variações em seu governo.

É importante questionar se os interesses da linha que rege o jornalismo da Editora Abril (se equilibrando entre utopias esquerdistas e conservadorismo cego), são puramente ideológicos. O envolvimento financeiro do grupo com empresas de nome nacional e internacional, interfere muito no que passa, ou não, pela "peneira editorial". As instituições de peso com as quais a editora se aliou, fazem com que seus textos assumam um perfil pró-mercado e anti-movimentos sociais (talvez por isso Veja tenha se colocado em posição tão contrária ao MST).

Interesses duvidosos, parcialidade jornalística. Por que não copiar quem compartilha como ninguém da ideologia capitalista que a editora tanto gosta de reproduzir para o público brasileiro? Suas revistas imitam, agradecidas, ao padrão americano de entreter, viver, vestir e informar, levando todos os segmentos de sua gama editorial para um só viés: o consumo.

O grupo Abril reflete muito bem o conceito difundido na sociedade neoliberal, para garantir, é claro, que seu público se torne, confortavelmente, menos reflexivo e esteja muito ocupado sustentando o sistema ao qual se incorporou.

Érika Uchôa

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