domingo, 8 de março de 2009

[Artigo] No Topo Da Cadeia Alimentar

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Outro dia estava assistindo um daqueles documentários sobre vida selvagem, onde um predador investia contra sua vítima. O narrador explicava que os carnívoros preferiam atacar os animais mais frágeis e debilitados, ou até mesmo os mais novos do bando. Típico exemplo das leis da cadeia alimentar. O mais forte vence o mais fraco. Mudei de canal e me deparei com uma reportagem que denunciava um caso de trote em uma universidade federal. Calouros eram pisoteados, afrontados por veteranos impetuosos, forçados a passar por situações de vexame. Novamente, o forte vence o mais fraco.

Desde crianças aprendemos com a professora de ciências que a cadeia alimentar é válida para seres irracionais, que se utilizam da violência apenas para sobreviver. Tecnicamente, o ser humano não se encaixa na categoria. Além disso, não estamos questionando os marginais e ladrões assassinos. O assunto é a classe universitária, a camada pensante, o “futuro da nação” e todo aquele discurso que você já cansou de ouvir. O que acontece então?

A ânsia pela superioridade declarada faz com que espanhóis fujam de touros furiosos, que orientais estimulem a obesidade para se enfrentar num ringue, e que estudantes brasileiros violentem seus colegas. São todas tradições, repetidas ano após ano, instigando um prazer perverso em seus devotos. Cadeia fétida dos racionais.

Por mais que as autoridades intervenham com leis e voz ativa, o argumento para combater os trotes deve ser a lei moral. Sinto dizer aos mestres que insistam em ensinar a antropologia, sociologia e direitos humanos, pois a cabecinha de alguns universitários ainda não é capaz de assimilar o preço de suas atitudes. Não há mal algum em diferenciar calouros e veteranos em um ambiente acadêmico, mas porque então não seguir o louvável modelo do trote solidário? Reformar uma praça, limpar uma avenida, ajudar um orfanato. A conversa de “futuro da nação”não é discurso barato, mas sim uma decisão que todo estudante precisa incorporar. É formar cidadãos com o mínimo de ética e respeito. Respeito é bom e não machuca ninguém.


Cristiane Lüscher

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