domingo, 31 de maio de 2009

fim.

No principio era o fim. Era o fim declamado em poesias, anunciado na televisão, maximizado pelas conversas de quintal do povo (des)crente. Tudo era um emaranhado de palavras infladas de filosofia, atualidade e comprovações científicas. Olhava-se o futuro distante e, com base nos erros do passado, a humanidade avaliava as perdas e traçava métodos mais eficazes de seguir adiante. Era preciso seguir adiante. Então, alguém parou, ponderou e disse: já é o fim. O fim já não era futuro, possibilidade, reação. O fim era realidade. Atual. Hoje. E fim de papo.

O fim manifestou-se atemporal. Sempre atestamos o fim. Sempre pregamos que ele estava próximo. Mas ele jamais chegou. Por que nele já estávamos. Presenciávamos nosso pior pesadelo supondo que ainda era o céu. A prova definitiva de que o fim, por fim, já não era tão fim assim. E o que era novo se fez velho, e o inaparente, aparente. O povo iludiu-se com a miséria iminente, e não notou os paupérrimos aos seus calcanhares. Afligiu-se com o armagedon e desapercebeu-se dos canhões apontados. Falou do fim chegando e não viu que nele já punha seus pés.

E o começo tornou-se o fim. O antes sempre fora o depois. O por vir já veio. O homem sempre cometeu seus erros e acertos mirando o fim de tudo. Mas num mundo em que o tempo é mera efemeridade, onde o tempo - me perdoem - é atemporal, isso é mera tolice. Não há nem começo nem fim nem meio. Há apenas a eterna continuidade munida do decorrer das ações e suas reações. No fim, não há fim.

O homem vem do pó e ao pó volta. Antes dele, outros pós já vieram e foram, e antes destes, também outros pós vieram e foram. A eterna continuidade estende-se pelas duas vias da infindável linha do tempo. E o homem pensando que poderia mudar o destino. Que podia remediar as agruras por ele mesmo impostas, que podia tornar um mundo melhor. E para seus netos! Pobre miserável sonhador. Pobre iludido desiludido.

E os planos? E os desejos? As aspirações, metas, objetivos, superação? De que valem as projeções, o estudo do passado, o futuro e seus efeitos? Pra que a história, os relatos, a herança, a cultura, se no fim de tudo, não haverá um fim. Seguiremos por nossa vereda errante, acumulando o infinito de sensações e feitos humanos, sobrecarregando a consciência coletiva de hoje e exacerbando a de amanhã? Sá resta o caos, o caos e sua bendita teoria. O vago hoje, preenchido da subsistência inquestionável e incapaz de questionar. Sem aurora ou crepúsculo. Sem certeza dos reflexos, sem a prepotência da previsão.


Lucas Schultz

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