segunda-feira, 6 de julho de 2009

O homem-pauta

Essa semana recebi uma tarefa ingrata: falar sobre um personagem que já deixou muita gente boquiaberta. Alguém que esteve presente na história durante anos e anos e anos, durante polêmicas, polêmicas e mais polêmicas e que cuja a história parece ter chegado ao fim no mês passado.
Não. Não estou falando do Sarney. Esse, está vivinho da silva. A tarefa é ingrata por que consiste em falar de quem todo mundo fala, analisar o que todo mundo já analisou, e ser guiada á frases prontas que todo mundo já usou.
O rei do Pop, o mito, a lenda, a aberração, o menino-prodígio, o desequilibrado, aquele que revolucionou a histórias dos vídeoclipes, o maior dançarino de todos os tempos, o louco de neverland, esteve desde a tenra idade na mídia. Aliás, todos estes estiveram na mídia.
A primeira pauta foi: A família de cantores vindos de Gary, Indiana, que tinha como diferencial o mais novo (6 aninhos) de sete irmãos. Um pivete cantando: “A B C”. Até aí tudo bem, “I´ll teach you all about love” já é meio que notícia. O moleque que dançava que nem gente grande, era assunto pela a primeira de várias vezes.
Aos 11 segundos do vídeo a seguir, o menino vira astro antes que você possa dizer: “Caraca, olha esse blackpower!”.


A partir daí a mídia foi devidamente alimentada com Jackson e mais Jackson. Os irmãos tiveram até desenho animado e série de tv. Acontece que só quem resolveu continuar enchendo a pança da imprensa com novas matérias foi o caçula que gravou um LP (pergunta pro seu avô o que é isso!) paralelamente ao sucesso do Jackson Five.
Um dueto com Diana Ross em um filme que celebrou os trinta anos de o Mágico do Oz concretizou a presença do astro no mundo pop. Depois, a parceria com Quincy Jones, um produtor de clipes, arranjador e empresário musical alavancou a carreira do cantor. Isso aconteceu principalmente com o lançamento do disco Of the Wall que vendeu 20 milhões de cópias e tornou Jones o mais poderoso produtor fonográfico da indústria. O cara não dava nem tempo de enjoar dele e já surgia com uma nova.
Parecia ilusão de ótica, mas o dançarino que começou com os irmãos já tinha até marca registrada. O moonkwalk fez garotas histéricas berrarem em cada show e inúmeras vezes ao longo dos anos
O tempo passou e de repente as coisas já não eram mais tão claras. Ou melhor eram bem mais claras. Há pouco eu falei de blackpower, mas o astro do pop surpreendeu muita gente ao aparecer branco na capa de um de seus discos. Não. A capa não estava em PB e ninguém pôde ignorar este fato. Muito menos a imprensa. Dá-lhe matérias e mais matérias especulativas.
O bailarino mudou de cor e a imprensa mudou de foco. Depois de inúmeros sucesso de bilheteria como, Thriller, Billie Jean e Beat it o famoso foi do mundo da música para o mundo das polêmicas rapidinho. Casamentos, campanhas beneficientes, rancho neverland, vitiligo, acusações de pedofilia, foram, nos últimos anos, tudo sobre o excentrico rei do pop.
Assuntos e assuntos depois, a idéia não é explicar a eterna pauta que Jakson foi, nem dizer ser se ele era excêntrico, imaturo, vítima, coitado, nem se a culpa foi do pai, ou da sociedade capitalista, nada disso.
Por mais que nós jornalistas por vezes banquemos de psicólogos, explicar comportamentos não é a nossa função. Jackson foi pauta dos 6 aos 50 anos e agora com a morte do astro, a mídia vai e com razão aproveitar a raspinha da panela e deixar o leitor exausto com pautas e mais pautas sobre o médico, a casa, o rancho, os filhos, os pais, os fãs, o dinheiro, e assim vai.
Por mais ousado que isso soe, Michael Jackson e sua constante presença na mídia são prova de que o que move o jornalismo em qualquer lugar do mundo são as pessoas que se enxergam uma nas outras.Não o fato, nem os acontecimentos, ou os fenômenos da sociedade como aprendemos na escola, mas as pessoas e suas histórias. As excentricidades, os dilemas, os exageros, os sonhos, as vitórias, a vida. Jackson morre, mas as pautas não. Enquanto houver histórias a serem contadas, e pessoas a serem conhecidas , os jornalistas (com ou sem diploma) serão na essência contadores das mais diversas histórias.

Carolina Nogueira

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